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Recentemente, uma influencer norte-americana, Courtney Novak, tem causado certo burburinho pelo interesse que tem demonstrado pela literatura brasileira.

A primeira leitura dos nossos clássicos compartilhada foi Memória Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e, antes mesmo de finalizar o livro, ela já afirmava: “este já é o meu preferido. Fim de discussão”. Tal fato levou a obra ao topo dos mais vendidos da Amazon, na categoria “Literatura caribenha e latino-americana”.

Seguindo sua obsessão por Machado, a tiktoker compartilha outra leitura realizada: Dom Casmurro, do já referido escritor brasileiro. No vídeo, ela não poupa elogios e ainda emite sua opinião a respeito do grande questionamento da obra: “Capitu não traiu. Estou no time Capitu. Eu acho que o narrador não é confiável, ele é destruído pelo seu próprio ciúme”, entrando com consonância com a proposta de análise já apresentada pela crítica Helen Caldwell, para a qual as acusações de Bentinho sobre Capitu são motivadas pelo excessivo ciúme que ele sente dela.

A partir daí, “[a] ‘narrativa’ de Santiago não passa de uma longa defesa em causa própria” (CALDWELL, 2002).
Mais recentemente, Courtney Novak viralizou com mais um clássico da literatura brasileira, indicada por muitos de seus seguidores brasileiros: A hora da estrela, de Clarice Lispector. Confessando estar no início da leitura desta obra, a influencer disparou sobre a escritora: “Essa mulher inventou um jeito de se escrever? Como nós podemos chamar isso que ela escreve?”.

Com esse breve informativo sobre o atual interesse estrangeiro sobre a literatura brasileira, vem uma questão: mas não já se falava sobre tais escritores e obras? Sim. Já se falava e ainda se fala. Se listarmos os nomes dos principais teóricos brasileiros que lidam há muito tempo com Machado e Clarice, por exemplo, temos: Lúcia Miguel Pereira, Silviano Santiago, Roberto Schwarz, Nádia Batella Gotlib, Olga Borelli, Benedito Nunes, sem contar os vários pesquisadores em programas de pós-graduação pelo país que se debruçam em apresentar novas propostas de leitura sobre a escrita de Machado e Clarice.

Então, por que foi necessário uma tiktoker norte-americana reacender o interesse por esses escritores e instigar a curiosidade por eles?

Para além da plataforma onde isso ocorreu – uma rede social –, talvez a linguagem e a informalidade com que as referidas obras foram apresentadas tenham sido a “isca” para cativar os seguidores e levá-los a conhecê-las. Sem elaboração crítica densa, aprofundada, rígida, a influencer conseguiu colocar luz sobre esses escritores citados apenas com o vislumbre e com as impressões pessoais que alcançou.
Isso quer dizer então que os textos críticos realizados nas universidades distanciam o público dessas obras? Não, necessariamente. Eles têm objetivos específicos, são escritos e divulgados para e por determinado nicho de leitores e estudiosos da literatura, bem como movimentam uma produção intelectual que só reforça a necessidade de sempre revisitar nossos escritores, que nunca se esgotam em uma ou outra leitura.

No entanto, no que diz respeito à massa – que ainda lê, mas que não necessariamente frequenta a Academia –, provavelmente a melhor forma de chamar a sua atenção para a leitura de romances considerados “difíceis” seja justamente por meio de pessoas como Courtney Novak, que, por meio de uma abordagem espontânea e despretensiosa, num canal que alcança um amplo número de pessoas, conseguiu causar esse rebuliço em torno da nossa literatura.

Percebe-se, assim, um dos lados positivos das redes sociais e dos influencers no tocante à leitura: a capacidade de disseminação e de real influência que esses elementos exercem sobre a sociedade contemporânea, especialmente a brasileira. Por fim, vale acrescentar, depois de testemunhar esse fenômeno resultante do ambiente virtual, como a literatura ainda tem o efeito de tocar qualquer leitor e como seu consumo tem sido cada vez mais mediado pelas redes sociais, já que estas facilitam a troca de informações e de impressões acerca do literário, além de motivar o engajamento entre leitores.

De todo modo, seja no ambiente virtual ou no acadêmico, a literatura não deixará de causar impactos significativos nos indivíduos que se sentem encorajados em seguir por suas veredas.


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Juliane Elesbão
Colunista : Revista Entre Poetas e Poesias | Website | + posts

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