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Mais um ano se iniciou e algum leitor por aí já deve ter feito sua meta de leitura para 2023, com lista de obras a serem lidas, gêneros a serem incluídos, escritores a serem conhecidos… Para tanto, faz-se o seguinte questionamento: como definir a referida meta?

Sabemos que toda lista de leituras tem como primeiro critério as preferências do leitor, cujas escolhas são guiadas pelo gosto literário, que se trata de uma categoria estética de recepção (conforme o E-Dicionário de termos literários). Esse gosto se consolida no decorrer da nossa formação humana e intelectual, do nosso processo de aprendizagem do mundo e da palavra escrita, que aciona nossas sensibilidades e nossos desejos. O gosto, portanto, está ligado, de certa forma, ao prazer suscitado pela prática leitora. Por isso, escolhemos obras esperando que elas nos satisfaçam e nos instiguem cada vez mais para a leitura, “enquanto forma de lazer e diversão” (PEREIRA, 2007, p. 2).

Além disso, há a velha tensão entre poesia e prosa, visto que esta última é mais consumida em relação àquela, ou seja, as pessoas leem mais textos em prosa (romances, contos) do que poemas. Isso se dá, talvez, pelo fato de a poesia estar identificada à abstração do pensamento que, supostamente, não seria alcançável por qualquer leitor. Mas a vivência poética também é necessária para aguçar nossos sentidos a respeito das potencialidades da linguagem, para mobilizar de forma específica o lado intelectual e afetivo do indivíduo, colaborando, assim, para a construção de significados vários.

Por fim, ainda devemos apontar a dicotomia qualidade versus quantidade:

  • ler mais livros ou ler melhores livros?
  • E o que pode ser considerado como melhor?

No que diz respeito a essa questão, cremos que a decisão pela quantidade ou pela qualidade é muito particular de cada leitor e que também será regida pelas preferências de leitura que ele possui.

Não cabe aqui julgamento sobre certa qualidade estética do que está sendo lido. Na verdade, acreditamos que toda leitura é válida e que dela pode ser extraído sempre algo proveitoso.

Além disso, alcançar ou não determinada quantidade de leituras não deve ser a principal preocupação de um leitor, sobretudo porque quantidade não denota qualidade de leitura, e o que deve ser levado em consideração é a experiência vivenciada durante o ato de ler.

Ano novo, metas de leituras novas… ou não. Nenhum leitor é obrigado a definir uma meta de leitura para cumprir durante 365 dias e correr o risco de cair numa frustração por não ter conseguido realizá-la. Ler não pode ser sinônimo de números a serem alcançados ou de obrigatoriedade. O ato de ler deve ser natural, livre e prazeroso, alargando e reinventando os modos de relação entre o leitor e o texto, que deve ser considerado um objeto cultural e artístico, expressão da vitalidade da língua, bem como instigando outros indivíduos para esta mesma prática.

A leitura, além de um esforço individual, também é uma prática social.

Com metas ou sem metas, o que importa aqui é que o hábito de leitura seja sempre alimentado; que nós estejamos sempre envolvidos com essa prática, promovendo sentidos que se transfiguram num sentir mais-que-pessoal (BUESCU, 2008).

REFERÊNCIAS

Buescu, H. Emendar a morte. Pactos em literatura. Porto: Campo das Letras, 2008.

PEREIRA, Maria Suely. A importância da literatura infantil nas séries iniciais. Revista Eletrônica de Ciências da Educação, v. 6, n. 1, 2007. Disponível em: . Acesso em: 08 jan. 2023.

Juliane Elesbão
Colunista : Revista Entre Poetas e Poesias | Website | + posts

Blogger, Andarilha na Literatura e Doutora em Letras. Colunista na Revista Entre Poetas e Poesias.

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