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Livro: Eu, Tituba: bruxa negra de Salem
Autor: Maryse Condé
Editora: Rosa dos Tempos
Ano da edição: 2020
Nº de páginas: 229

Maryse Condé, uma das maiores escritoras negras da atualidade, dá voz à Tituba, uma escrava sul-americana que se tornou famosa por ser uma suposta bruxa. Ela “pertencia” ao Reverendo Samuel Parris, cujas filhas manifestaram estarem sendo afetadas por seres invisíveis, o que gerou uma verdadeira caça às bruxas em Salem.

Depois de três séculos da sua morte, a figura histórica de Tituba reaparece na ficção de Condé, cujo enredo tem como pano de fundo a colonização na América do Norte, sustenta pela colonização que causou sofrimento ao povo negro escravo da época. Por isso mesmo, no lugar de escrava, negra e mulher, Tituba se tornou um alvo fácil de acusação e perseguição, pois seus conhecimentos acerca das ervas, a natureza e as energias fizeram-na como a principal suspeita de atos e comportamentos de bruxaria.

Assim, o romance referido é elaborado na fronteira entre a História e a ficção, e essa fronteira se faz presente, especialmente, quando a protagonista reclama e lamenta a postura dos seus futuros historiadores, que negligenciaram a sua presença na história do colonialismo americano.

A narrativa de Maryse Condé, eivada pela ancestralidade da personagem principal, partindo da perspectiva de uma ‘autobiografia retrospectiva”, traz uma série de questionamentos acerca da condição da mulher negra numa sociedade patriarcal fortemente conservadora, hipócrita e religiosamente fanática. Por meio de uma linguagem crua e singela, a escritora caribenha trata dessa figura histórica, enlaçando-a a temas atuais, como preconceito étnico, de gênero e de classe, bem como o aproveitamento sexual do corpo negro feminino por parte dos homens, sobretudo autoridades.

Dessa maneira, a escritora, por meio da história de Tituba, levanta questões ligadas à condição humana e ao lugar que nós ocupamos no meio coletivo. Quais os efeitos de nossas ações? O que é o mal? O que é o bem? Por que há essa relação de superioridade entre os homens? “Quem, quem fez o mundo?”.

Vale destacar que Condé já foi premiada várias vezes pela sua obra. Em 2001, ela foi vencedora do prêmio de literatura da comunidade sueca The New Academy, considerado um nobel alternativo.

Por fim, é uma obra que vale a pena a leitura e que pode nos ajudar a pensar sobre a referida condição humana de determinados grupos sociais com os quais convivemos e os quais ainda são subjulgados pelo preconceito e arrogância daqueles que são seus iguais (já que o tom da pele deveria ser visto apenas como uma consequência do grau de melanina no corpo).

Serviço


Juliane Elesbão
Colunista : Revista Entre Poetas e Poesias | Website | + posts

Blogger, Andarilha na Literatura e Doutora em Letras. Colunista na Revista Entre Poetas e Poesias.

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