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É sabido que um clássico não é exatamente uma leitura fácil de se fazer, bem como não é todo mundo que está disposto a pegar o original de uma obra canônica para destrinchá-la por meio da leitura.

No entanto, esse é um tipo de leitura bastante cobrado no ambiente escolar para dar conta da formação do jovem leitor. A depender da idade e da maturidade do leitor, talvez o melhor não seja fazer essa aproximação direta dada a complexidade dos vários clássicos, o que pode gerar uma aversão, uma recusa ou, até mesmo, uma espécie de “trauma” no público infantojuvenil.

Na verdade, o interessante é que esse contato se dê com certa naturalidade, com o intuito de instigar esse jovem leitor, assim como reforça Ana Maria Machado:

[…] o que deve se propiciar é a oportunidade de um primeiro encontro. Na esperança de que possa ser sedutor, atraente, tentador. E que possa redundar na construção de uma lembrança (mesmo vaga) que fique por toda a vida. Mais ainda: na torcida para que, dessa forma, possa equivaler a um convite para a posterior exploração de um território muito rico, já então na fase das leituras por conta própria.

(MACHADO, 2002, p.12-13)


Uma das alternativas para que essa aproximação não seja tão “brusca” é por meio de adaptações, e boas adaptações!

Damos ênfase aí, pois não é todo texto adaptado que consegue captar a essência de um clássico, e tal detalhe por trazer consequências irreversíveis, como afastar de forma permanente um potencial leitor de toda uma gama de obras a serem desbravadas.

Em síntese, a qualidade das adaptações deve ser avaliada e devemos lembrar que elas não são exclusivamente responsáveis pela formação de leitores.

De todo modo, uma boa adaptação pode colaborar para atrair esse leitor e fazê-lo procurar novas leituras, pois será a sua própria experiência leitora, na qual se dá a construção ou atribuição de sentidos ao lido, que predisporá cada vez mais esse jovem para o hábito de ler. Salientamos essa espécie de “ramificação” de leituras, pois:
[u]m livro leva a outro, uma leitura é abandonada por outra, uma descoberta provoca uma releitura. Não há ordem cronológica. A leitura que fazemos de um livro escrito há séculos pode ser influenciada pela lembrança nossa de um texto atual que lemos (MACHADO, 2002, p. 130).

Vale destacar que uma adaptação acaba democratizando o acesso à leitura e não, necessariamente, deve ser considerada uma leitura de menor valor. O importante, aqui, é não negligenciar esse contato entre os jovens leitores e os clássicos, visto que estes proporcionam outras perspectivas de mundo, ampliação da nossa bagagem cultural, estímulo ao senso crítico, entre outras benesses.

A partir de então, apresentamos aqui uma adaptação muito bem elaborada e bem interessante de um dos maiores clássicos que legamos da Antiguidade, que é a Odisseia, poema épico atribuído a Homero.

Sabemos que a narrativa trata das aventuras vividas por Odisseu ao retornar da Guerra de Troia, sobrevivendo ao canto das Sereias, à beleza atraente de Calipso e de Circe, ao perigoso ciclope Polifermo, além de ter superado as tempestades, os redemoinhos e outros obstáculos que surgiram no caminho.

Essa adaptação de 2013, publicada pela Editora Peirópolis e traduzida Tereza Virginia Ribeiro Barbosa e Piero Bagnariol, se mostra interessante pelo trabalho editorial e gráfico da obra, ao reelaborar os labirintos que dão disposição às cenas, cujas ilustrações e cores fazem referência direta à iconografia grega, além de transformarem em imagens visíveis os principais momentos da narrativa. A linguagem, por sua vez, recebe influxos do brasileiro contemporâneo, sobretudo para expressões de teor onomatopaico, como por exemplo: “qualquer zum-zum-zum, qualquer titi-ti”, “aurora cabelos rastafári” e “deusa Atena viso-murucututu”.

Para concluir, temos aí uma adaptação bem elaborada, na qual se percebe todo um esforço de assimilar e divulgar a substancialidade da obra de Homero, com a preocupação de tornar esse texto mais acessível e atraente, sem correr o risco de perder a sua qualidade.

Então, leiamos. Leiamos as adaptações, leiamos os clássicos!

Referências das obras citadas:

HOMERO. Odisseia em quadrinhos (adaptação). Roteiro e tradução de Tereza Virginia Ribeiro Barbosa; ilustração de Piero Bagnariol. São Paulo: Editora Peirópolis, 2013.

MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

Juliane Elesbão
Colunista : Revista Entre Poetas e Poesias | Website | + posts

Blogger, Andarilha na Literatura e Doutora em Letras. Colunista na Revista Entre Poetas e Poesias.

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